AULA 1 - Apresentação da disciplina e introdução ao conteúdo.
As Evidências do cotidiano
Nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.
AULA 2 e 3 - A origem da atitude filosófica.
Imaginemos, agora, alguém que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A loucura? A razão?
Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas afirmações por outras: “Onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não ficar resfriado”, por: O que é causa? O que é efeito?; “seja objetivo ”, ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é a objetividade? O que é a subjetividade?; “Esta casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é “mais”? O que é “menos”? O que é o belo?
Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: O que é a verdade? O que é o falso? O que é o erro? O que é a mentira? Quando existe verdade e por quê? Quando existe ilusão e por quê? Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o amor? O que é o desejo? O que são os sentimentos?
Se, em lugar de discorrer tranqüilamente sobre “maior” e “menor” ou “claro” e “escuro”, resolvesse investigar: O que é a quantidade? O que é a qualidade?
E se, em vez de afirmar que gosta de alguém porque possui as mesmas idéias, os mesmos gostos, as mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O que é um valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade?
Alguém que tomasse essa decisão, estaria tomando distância da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência.
Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica.
Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.
Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”.
AULA 4 e 5 - A atitude crítica.
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às idéias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido.
A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica.
A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico.
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto.
Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes como se não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que somos, por que somos e como somos.
AULA 6 e 7 - Para que Filosofia?
Ora, muitos fazem uma outra
pergunta: afinal, para que Filosofia?
É uma pergunta interessante.
Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por exemplo, para que matemática ou
física? Para que geografia ou geologia? Para que história ou sociologia? Para
que biologia ou psicologia? Para que astronomia ou química? Para que pintura,
literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para
que Filosofia?
Em geral, essa pergunta
costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A
Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”.
Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de “filósofo”
alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo
coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.
Essa pergunta, “Para que
Filosofia?”, tem a sua razão de ser.
Em nossa cultura e em nossa
sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir
se tiver alguma finalidade prática, muito visível ele utilidade imediata.
Por isso, ninguém pergunta
para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos
produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à realidade.
Todo mundo também imagina ver
a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte,
quanto porque nossa cultura vê os artistas como gênios que merecem ser
valorizados para o elogio da humanidade. Ninguém, todavia, consegue ver para
que serviria a Filosofia, donde dizer-se: nãoserve para coisa alguma.
Parece, porém, que o senso
comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem
ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de
pensamento; pretendem agir sobre a realidade, através de instrumentos e objetos
técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e
aumentando-os.
Ora, todas essas pretensões
das ciências pressupõem que elas acreditam na existência da verdade, de
procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicação
prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser
corrigidos e aperfeiçoados. Verdade, pensamento, procedimentos especiais para
conhecer fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes:
tudo isso não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte
delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca
respostas para elas.
Assim, o trabalho das
ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o
cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os cientistas e filósofos
sabem disso, o senso comum continua afirmando que a Filosofia não serve para
nada.
Para dar alguma utilidade à
Filosofia, muitos consideram que, de fato, a Filosofia não serviria para nada,
se “servir” fosse entendido como a possibilidade de fazer usos técnicos dos
produtos filosóficos ou dar-lhes utilidade econômica, obtendo lucros com eles;
consideram também que a Filosofia nada teria a ver com a ciência e a técnica.
Para quem pensa dessa forma,
o principal para a Filosofia não seriam os conhecimentos (que ficam por conta
da ciência), nem as aplicações de teorias (que ficam por conta da tecnologia),
mas o ensinamento moral ou ético. A Filosofia seria a arte do bem viver.
Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a
capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões,
ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres
humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinar nos a virtude, que é o
princípio do bem-viver.
Essa definição da Filosofia,
porém, não nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser uma arte moral ou ética, ou
uma arte do bem-viver, a Filosofia continua fazendo suas perguntas
desconcertantes e embaraçosas: O que é o homem? O que é a vontade? O que é a
paixão? O que é a razão? O que é o vício? O que é a virtude? O que é a
liberdade? Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos? Por que a liberdade
e a virtude são valores para os seres humanos? O que é um valor? Porque
avaliamos os sentimentos e as ações humanas?
Assim, mesmo se disséssemos
que o objeto da Filosofia não é o conhecimento da realidade, nem o conhecimento
da nossa capacidade para conhecer, mesmo se disséssemos que o objeto da
Filosofia é apenas a vida moral ou ética, ainda assim, o estilo filosófico e
a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas
filosóficas - o que, por que e como - permanecem.
AULA 8 - As características da Filosofia.
1. A filosofia exige justificação racional, isto é, é preciso:
a) argumento, debate e compreensão;
b) conhecer as condições e os pressupostos de nossos pensamentos e os dos outros;
c) respeitar as regras de coerência do pensamento.
2. A filosofia possui uma atitude crítica:
Um grande exemplo entre os inúmeros existentes é Descartes (1596-1650). O filósofo buscou abandonar todas as suas antigas opiniões através da duvida metódica, que se baseia numa reflexão que deixa de lado qualquer crença cuja verdade possa ser contestada, leve ou completamente.a) julgamento, discernimento e decisão;b) exame racional sem preconceito e prejulgamento;c) exame e avaliação detalhada de uma idéia, valor costume, etc.
"É necessário que ao menos uma vez na vida você duvide, tanto quanto possível, de todas as coisas". Descartes
AULA 9 e 10 - Útil? Inútil?
O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que e para quem algo é útil? O que é o inútil? Por que e para quem algo é inútil?
O senso comum de nossa
sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o
útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando utilidade
e a famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a
Filosofia é inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil.
Não poderíamos, porém,
definir o útil de outra maneira?
Platão definia a Filosofia
como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos.
Descartes dizia que a
Filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que
os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a
invenção das técnicas e das artes.
Kant afirmou que a Filosofia
é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer
e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana.
Marx declarou que a Filosofia
havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora,
de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância
e felicidade para todos.
Merleau-Ponty escreveu que a
Filosofia é um despertar para ver e mudar nosso mundo.
Espinosa afirmou que a
Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos,
se desejarem a liberdade e a felicidade.
Qual seria, então, a
utilidade da Filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e
os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão
às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar
compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se
conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política
for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem
conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade
para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos
os saberes de que os seres humanos são capazes.
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